O que é o Câncer de Ovário?

O câncer é uma doença degenerativa do ovário, que aumenta com a idade do indivíduo e torna-se mais frequente na mesma proporção do envelhecimento da população. No passado as pessoas não viviam o bastante para chegar à idade de ter câncer, por isso atualmente temos a sensação que incidência de câncer está maior e mais comum por que estamos vivendo mais e melhor.

O câncer de ovário é a segunda causa ginecológica de mortes no Brasil. Em países desenvolvidos é a causa mais comum de tumores malignos do aparelho genital feminino. Por exemplo, nos Estados Unidos da América, morrem 14600 mulheres anualmente por câncer de ovário.

A mortalidade, por outro lado, vem diminuindo na maioria dos países, e nos diferentes tipos de câncer, inclusive no câncer de ovário.  Os métodos de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento experimentaram avanços sem precedentes nas últimas décadas e isto pode ser visto nas estatísticas de mortalidade nos diferentes tipos de câncer.
Mais de 90% dos casos de câncer de ovário ocorrem de forma esporádica na população geral, principalmente em mulheres acima de 50 anos. 
A predisposição familiar é de aproximadamente 5% a 10% no subgrupo de mulheres jovens que desenvolveram câncer de ovário e a maioria desses casos estão associados a mutações genéticas tipo BRCA1, BRCA2 e MMR.
Quando a doença é diagnosticada no estágio 1, isto é, confinada ao ovário, a sobrevida de 5 anos é superior a 90%. Portanto a ecografia transvaginal com aplicação do protocolo de análise internacional de tumores ovarianos (International Ovarian Tumor Analysis- IOTA)  está associada a sobrevida prolongada.

QUAIS OS SINTOMAS DO CÂNCER DE OVÁRIO?

Na grande maioria das vezes são assintomáticos, sendo este um grande problema, pois quando os sintomas de inchaço abdominal, dor pélvica e percepção de tumoração abdominal e pélvica aparecem geralmente o câncer está em estágio avançado.

COMO DETECTAR O CÂNCER DE OVÁRIO?

O advento da ultrassonografia na década de 1970 representou um marco para o diagnóstico, entendimento e conduta nos casos de massas pélvicas.

A ecografia ou ultrassonografia transvaginal permitiu melhorar de forma significativa a caracterização do tecido ovariano, de forma muito clara a ecografia transvaginal tornou- se a técnica padrão para definir a ecotextura das massas ovarianas.

Atualmente, usamos a ecografia transvaginal, realizada por médico treinado e experiente, com a aplicação da análise internacional de tumores ovarianos (International Ovarian Tumor Analysis- IOTA), estudo reconhecido pelas principais sociedades internacionais e pela FEBRASGO (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) que tem como objetivo principal detectar o câncer de ovário em estágio precoce e tratável, consequentemente reduzindo significativamente a mortalidade. 

CISTO DE OVÁRIOS PÓS-MENOPAUSA

A  maioria dos cistos que surgem após a menopausa são benignos, porém esse é também uma fase da vida da mulher com maior incidência de tumores malignos do ovário sendo muito importante que seja feito uma ecografia transvaginal por profissional experiente e bem treinado para avaliar as características do cisto e avaliar a possibilidade de malignidade e assim orientar a periodicidade do seguimento, exames complementares e cirurgia, em alguns casos, para complementar o diagnóstico.

FERTILIDADE PÓS-CÂNCER DE OVÁRIO E TUMORES BORDERLINES

A fertilidade após o tratamento conservador por carcinoma de ovário está fortemente relacionada à presença ou não de sequelas cirúrgicas como aderências, assim como à necessidade de quimioterapia adjuvante. A quimioterapia pode comprometer a função ovariana, embora o esquema carboplatina e paclitaxel não seja muito gonadotóxico. 

Há mais de duas décadas observa-se um aumento significativo de cirurgias preservadoras de fertilidade em mulheres jovens com tumores borderlines ou carcinoma de ovário. Assim, no planejamento pré-operatório de uma massa anexial potencialmente maligna, recomenda-se uma avaliação cuidadosa do desejo reprodutivo e da probabilidade de gestar para determinar a validade da abordagem conservadora. A conservação da fertilidade consiste na  preservação de um anexo (ou parte do ovário) e do útero durante a cirurgia, devendo ser realizado o estadiamento completo de acordo com a histologia do tumor. Em 2011, a Sociedade Europeia de Ginecologia Oncológica preconizou a conservação da fertilidade em mulheres jovens, com tumores borderlines de ovário e em mulheres com carcinomas invasivos estádio IA grau 1 ou 2, seroso, mucinoso e ou endometrióide, podendo essa conduta ser adotada também em mulheres com doença estádio IC2. Atualmente, a preservação da fertilidade também tem sido aventada para mulheres com carcinomas de células claras. Frente a um tumor borderline ou carcinoma de ovário aparentemente limitado apenas a um ovário (estádio IA), o ovário contralateral normal deve ser cuidadosamente examinado, mas não deve ser biopsiado, pois essa biópsia pode causar uma diminuição da reserva ovariana e/ou propiciar aderências peritoneais sem benefício para a paciente. 

            Em mulheres com tumores borderlines no estádio IA a preservação da fertilidade deve ser fortemente enfatizada. Quando os tumores borderlines são bilaterais (estádio IB, IC bilateral) pode-se optar pela preservação de parte de um ou ambos os ovários acometidos. Quando não desejam engravidar logo após a cirurgia conservadora, não há contra-indicação para utilização de contraceptivo hormonal oral. Porém, é importante lembrar que a taxa de recidiva/recorrência tardia dos tumores borderlines não é desprezível. Assim, a mulher deve ser orientada a não postergar exageradamente a gestação. E frente à impossibilidade de preservar os ovários, não há necessidade de histerectomia, pois a preservação do útero permite a gestação através de ovodoação. Embora a mulher possa inicialmente rejeitar essa opção, ela pode mudar de opinião no futuro. 

            Tumores borderlines podem ser detectados em estádios mais avançados; nesses casos é fundamental a ressecção de todos os implantes visíveis, pois o prognóstico é pior e o tratamento é exclusivamente cirúrgico. A presença de implantes invasivos deve ser cuidadosamente avaliada por se relacionar a um pior prognóstico. Mesmo assim, em mulheres com tumores borderlines e implantes extraovarianos, a preservação do útero e do ovário contralateral não acometido não alteram a sobrevida. É importante esclarecer a mulher que os tumores borderlines podem recidivar e nesses casos os fatores prognósticos mais relevantes são a presença de implantes peritoneais, essencialmente implantes invasivos, e o tipo de cirurgia realizada. O risco de recidiva é maior em mulheres submetidas a tratamento conservador podendo chegar a 25%. Entretanto, a recidiva diagnosticada precocemente é tratada com cirurgia e as mulheres apresentam um prognóstico excelente. 

CARCINOMA INVASIVO DO OVÁRIOS          

 Em mulheres com carcinomas invasivos de ovário o estadiamento cirúrgico é fundamental e inclui um minucioso inventário da cavidade. Além disso, em mulheres com carcinoma endometrióide do ovário, uma curetagem endometrial é recomendada devido a possível concomitância com carcinoma de endométrio. Em mulheres com carcinomas invasivos de ovário limitados a apenas um ovário e adequadamente estadiadas, o prognóstico é excelente. 

Entretanto, menos de 40% das mulheres com carcinoma invasivo de ovário são diagnosticadas em estádio I. Não há para o carcinoma invasivo de ovário um consenso tão claro em relação à preservação da fertilidade quanto aquele descrito para os tumores borderlines. A maioria dos guidelines sugere que a preservação da fertilidade seja limitada a mulheres com idade inferior a 40 anos, com carcinoma invasivo estádio IA, bem diferenciado. É seguro considerar que a preservação da fertilidade possa ser estendida para mulheres com carcinomas grau 2 ou 3 estádio IA e, eventualmente, para aquelas com estádio IC acometendo apenas um ovário. 

A cirurgia conservadora deve ser evitada nos estádios IB ou IC com acometimento bilateral. Poucos estudos incluem o tratamento conservador em mulheres com doença extraovariana. 

Autora: Dra Zilma Eliane Ferreira Alves

Referências 

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